segunda-feira, 19 de maio de 2014

O Cavalo e o Burro



O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade. 
O cavalo contente da vida, folgando uma carga de quatro arroba apenas e o burro - coitado! gemendo sob o peso de oito. 
Em certo ponto, o burro parou e disse:

  - Não posso mais! Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.

O cavalo deu um pinote e relinchou uma gargalhada.

 - Ingênuo! Quer então que eu arque com seis arrobas, quando posso tão bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo?

O burro gemeu:

 - Egoísta! Lembre-se que se eu morrer, você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.

O cavalho pilheriou novamente e ignorou o burro.
Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e quebra a pata. Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.

 - Bem feito!
exclamou um papagaio que passara por ali.
 - Quem mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrado agora...


Variação feita por Monteiro Lobato. 
Original, Fábulas de Esopo.

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