sexta-feira, 16 de maio de 2014

21.

O poema abaixo, retrata os 21 anos vividos por Patrick Roche e o problema que seu pai tinha com o alcoolismo.



"21.
Meu pai é atropelado por um carro. 
Ele desmaiou na estrada com o teor de álcool no sangue quatro vezes maior que o limite legal.
Eu não chorei.
Quatro meses depois, as enfermeiras perderam seu pulso e eu me perguntei, 
qual vida passou diante os olhos dele.
Rebobinando fitas VHS, velhos vídeos caseiros.

20.

19.
Eu não levo um amigo em casa há quatro anos.

18.
Minha mãe sorve a palavra "divórcio".
Sua boca enrola com o gosto, como se estivesse queimando enquanto descia.

17.
Eu começo a fazer as tarefas de casa no Starbucks.
Eu tenho mais conversas significativas com o barista do que minha família.

16.
Eu espero pela véspera de Natal.
Meu irmão e eu costumamos trocar presentes mais cedo.
Esse ano, ele e meu pai trocaram golpes.
Minha mãe não irá a missa.

15.
Eu apareci com a teoria de que meu pai começou a beber novamente 
porque talvez ele tenha descoberto que eu sou gay.
Como se ele pudesse fazer tudo mais embaçado.
Talvez de algum jeito eu pareça Hetero.
15.
Minha mãe limpa seu vômito no meio da noite e prepara o café da manhã 
como se ela não tivesse perdido seu apetite.
15.
Eu me culpo.
15.
Meu irmão culpa todos os outros.
15.
Minha mãe culpa o cachorro.
15.
Super Bowl, domingo.
Meu pai estoura a porta como uma avalanche, tomando velocidade e detritos 
enquanto ele derruba balaustres, mesas de café, quadros.
Caindo, tropeçando.
Eu achei a sua ficha do AA no balcão da cozinha.

14.
Meu pai está sóbrio a 10, talvez 11 anos?
Eu só sei que nós não pensamos mais nisso.

13.
12.

11.
Minha mãe me diz que os "encontros" do meu pai são para o AA.
Ela me pergunta se eu sei o que isso significa.
Eu não sei. Eu balanço a cabeça de qualquer jeito.

10.
Meus pais nunca bebem vinho em encontros familiares.
Todos os meus outros tios bebem.
Eu me distraio com a TV. e me esqueço de perguntar o porquê.

9.
8.
7.

6.
Eu quero ser o homem aranha.
Ou, meu pai.
Eles são meio que a mesma coisa.

5.
4.

3.
Eu tive um pesadelo.
O mesmo pesadelo recorrente de Úrsula de A Pequena Sereia.
Então, eu me levantei, 
gingo em direção ao quarto de mamãe e papai, cobertorzinho em mãos, eu parei.
Papai está em pé em suas cuecas, posso ver sua silhueta na luz da geladeira.
Ele levanta uma garrafa até seus lábios.

2.
1.

Zero.
Quando minha mãe estava grávida de mim, eu me pergunto se ela esperava que, como tantas mães fazem, que seu pequeno menino iria crescer e ser exatamente igual...
...seu pai."


Patrick Roche.

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